Há muita controvérsia sobre o uso do sal. Há defensores e quem se mostra contra nos casos de peixes de água doce.
A tabela mostra quantidade recomendada, mas o texto abaixo reflete sobre outra opinião.
Fonte: Peixe Grande Aquarismo
Uso de Sal (NaCl) em aquários de água doce, um texto escrito de forma técnica, excelente leitura...
Uso do sal grosso em aquários com peixes de água doce
Foi pensando em como desmistificar este assunto de uma vez por todas que nós resolvemos escrever este texto, esperamos com ele conseguir mostrar que o sal não deve ser usado a torto e a direito nos aquários de peixes de água doce e o que o seu mau uso pode causar nos pobres peixes que não têm como se defender das atitudes que o "dono" do aquário pratica.
Toda água contém substâncias dissolvidas - sais, gases, pequena quantidade de compostos orgânicos e vários poluentes. Além da temperatura da água, esses são os fatores de maior importância fisiológica.
A água do mar contém cerca de 3.5% de sal (isto é, 1 litro de água do mar contém aproximadamente 35g de sal), os principais íons são sódio e cloreto, com magnésio, enxofre e cálcio presentes em quantidades substanciais. A concentração varia um pouco conforme a região.
A água doce, ao contrário da água do mar, apresenta um conteúdo de soluto altamente variável. Se a água corre sobre uma rocha dura e insolúvel, como o granito, ocorre a dissolução de pouco material adicional e, portanto, esta água é denominada mole; por outro lado, se ela se infiltra no calcário poroso, pode dissolver relativamente grandes quantidades de sais de cálcio e é denominada água dura.
Percebam o fato de que o termo "sais" é aplicado para outros compostos que não aquele sal de cozinha ou sal grosso que você conhece.
Os animais de água doce possuem fluidos corpóreos que são osmoticamente mais concentrados que o meio; estes animais são chamados de hiperosmóticos.
As diferenças são geralmente reguladas cuidadosamente pelo organismo do animal. Para ilustrar os problemas da regulação de volume das células, podemos considerar a membrana celular permeável à água, porém impermeável aos solutos. Uma alteração na concentração extracelular (fora da célula, ex: na água) causará uma alteração no volume celular:
• Se a concentração extracelular (da água) for reduzida, a célula absorverá água e inchará - um problema que pode acontecer com os ciclídeos africanos que necessitam de água "dura" e são mantidos em água "mole".
• Se a concentração extracelular for aumentada (colocar sal na água de um peixe de água doce), a água será retirada e a célula murchará, o peixe vai "perder" água para o meio, ficará desidratado.
As concentrações iônicas são sempre muito diferentes daquelas do meio externo, mas isso não é tudo. Acontece que cátions comuns Na+ e K+, têm um efeito perturbador considerável sobre a ação de enzimas metabólicas e alterações substanciais nas suas concentrações poderiam causar um grande desarranjo no metabolismo celular.
Boa parte do metabolismo celular depende de um processo popularmente chamado de bomba de sódio e potássio, no qual íons de potássio são mantidos em concentração intracelular maior e íons de sódio são mantidos em concentração extracelular maior. Tais concentrações permitem o funcionamento de proteínas que controlam a entrada de nutrientes vitais à célula, como glicose e aminoácidos.
Sendo o sal de cozinha comum composto pelos íons Na+ e Cl-, ao ser adicionado em uma maior quantidade no meio em que o(s) peixe(s) se encontra(m) estará afetando diretamente o metabolismo celular do animal, a menos que o organismo do mesmo seja capaz de se adaptar a tal situação.
Apesar de tal fenômeno não ser de imediata mortalidade, são consideráveis os impactos causados nos organismos dos peixes, mesmo que aparentemente estejam normais, afinal as concentrações utilizadas não chegam a ponto de causar uma desidratação fatal.
A perda de água causa o aumento da concentração de solutos e o sistema de absorção e reabsorção de íons encontrado em animais de água doce aumenta ainda mais a concentração de Na+, principalmente em todos os órgãos do animal. Tudo isso causa uma falência gradativa dos sistemas vitais, levando a uma lenta e sofrida morte.
Em um estudo recente sobre o efeito do sal (NaCl) em tilápias, ficou provado que muitos peixes apresentaram lesões como: perfuração do opérculo, perda de escamas, alguma despigmentação, letargia, distensão abdominal e outras anomalias. Tudo isso por terem sido mantidas em água com concentração de sal (NaCl) elevada, à qual estes peixes normalmente não são expostos.
Casos especiais de peixes de água doce hipersensíveis à presença do sal grosso na água:
Existem peixes que apresentam o corpo revestido por placas ósseas no lugar das escamas: corydoras, tamboatás, brochis, loricarídeos e afins; estes peixes possuem uma camada muito mais fina (podendo até mesmo estar ausente) de muco epitelial externo. Eles não suportam a presença de sal na água (NaCl), pois ele pode facilmente levá-los à morte por desidratação rapidamente devido à grande diferença osmótica criada, à qual não estão adaptados e não são capazes de enfrentar. Muitas, se não a maioria, das espécies de loricarídeos não suportam a presença de sal na água.
Quando a adição do sal na água do aquário é recomendada:
Espécies adaptadas a meios mais instáveis e/ou salobros, como o ambiente estuarino, possuem sistemas de absorção de íons que varia de acordo com a concentração osmótica do meio, ou seja, em meios de concentração salina maior, a absorção de íons será menor e vice-e-versa.
Assim, tais espécies conseguem manter seus fluidos vitais estáveis, evitando a desidratação já mencionada e/ou uma super-hidratação, caso o meio seja hipotônico em relação ao organismo do peixe.
Algumas espécies, por estar a muito tempo adaptadas em tal ambiente, acabam necessitando de alguma adição de sal na água para uma vida plena e saudável, seja pelo desenvolvimento de fraqueza contra doenças menos comuns em águas salobras ou mesmo pela necessidade de certa quantidade de sal para a melhor manutenção do tão citado equilíbrio osmótico (certas espécies como o abelhinha e o conhecido mexirica, por exemplo). Para outras, mais adaptáveis e resistentes, pouco importa a concentração salina na água, desde que não haja extremos e a variação não ocorra bruscamente (havendo poecilídeos em geral como exemplo).
Algumas espécies mais comuns e que vivem bem em água salobra: algumas espécies de baiacus, o conhecido peixe vidro indiano, o já citado abelhinha famoso por seu diminuto tamanho que é inversamente proporcional à sua beleza e charme, o peixe arqueiro é outro que vive melhor em água salobra, mexirica e scatofagos também integram o time.
Existem várias outras espécies, cada uma com suas necessidades particulares quanto à densidade da água, tamanho do aquário, companheiros e alimentação.
A natureza demorou milhares de anos para moldar as necessidades de cada espécie de peixe, não queira ser do contra e fazer seu peixe sofrer só porque lhe falaram que o sal grosso faz bem para peixes de água doce. Existem muitas informações por aí, o importante é saber questioná-las e filtrá-las!!!
"Ahh, mas eu li em um site que o sal é bom contra o íctio..."
NÃO coloque o sal, ele faz mal para o parasita e para o pobre coitado do peixe, que já está debilitado.
"Mas fulano usa sal no aquário e os peixes dele estão bem"
Primeira questão: são peixes que podem viver em águas com uma salinidade maior, por exemplo, os poecilídeos (lebiste, molinésia, plati, espada...)?
Segunda questão: Faz quantos anos que ele trata os peixes assim? Não perdeu nenhum? Todos cresceram bem?
"Ahhh mas..."
Nada de "mas", é comprovado cientificamente que o sal grosso faz mal a peixes de água doce
Boa sorte com seus peixinhos!
Cinthia Emerich e Felipe Aoki
Bibliografia consultada:
FishBase/ SCHMIDT-NIELSEN, K. Fisiologia animal: Adaptação e Meio Ambiente. 5ª ed. São Paulo: Editora Santos, 2002.